3 de abr. de 2018

Do julgamento à compaixão

Vejo-me constantemente formando opiniões sobre alguém: do tipo “ele não pode ser levado a sério. Ela só está querendo chamar atenção. Eles são encrenqueiros que só querem criar problemas. Eles são isso e aquilo...”. Esses julgamentos são uma forma de assassinato moral. Eu rotulo meus companheiros seres humanos, categorizo-os e os coloco a uma distância segura de mim. Ao julgar os outros assumo falsas funções. Por meus julgamentos acabo dividindo o mundo entre os que são bons e os que são maus e, assim, faço o papel de Deus. Mas todos que fazem o papel de Deus acabam atuando como o demônio.
Julgar os outros implica que, de alguma forma, nos situamos fora do lugar onde seres humanos fracos, imperfeitos e pecadores vivem. É um ato pretensioso e arrogante que revela cegueira não só em relação aos outros, mas também em relação a nós mesmos.
Sou movido pela ideia de que o pacificador jamais julga alguém – nem seu vizinho próximo, nem seu vizinho distante, nem seu amigo, nem seu inimigo. Ajuda-me a pensar em pacificadores como pessoas cujo coração está tão ancorado em Deus que elas não precisam avaliar, criticar, ou pesar a importância dos outros. Elas podem ver seu próximo – seja ele norte-americano ou russo, nicaraguense ou sul-africano – como um colega ser humano, um colega pecador, um colega santo, homens e mulheres que precisam ser escutados, olhados e cuidados com o amor de Deus e que precisam ter espaço para reconhecer que pertencem à mesma família humana que nós.
Lembro-me com nitidez de ter conhecido um homem que nunca julgava ninguém. Eu estava tão acostumado a viver em meio a pessoas cheias de opiniões sobre os outros e ansiosas por compartilhá-las que, a princípio, me senti um pouco perdido. Então me questionava: sobre o que se conversa quando não se está discutindo ou julgando alguém? Porém, ao perceber que aquele homem também não me julgava, passei gradualmente a experimentar uma nova liberdade interior.
Esse homem me fez ver que posso viver sem a pesada carga de julgar os outros e posso ser livre para ouvir, olhar, amar e receber sem receios os dons que me são oferecidos. E, quanto mais me liberto da compulsão interior de formar opiniões rapidamente a respeito de quem o outro realmente é, mais me sinto parte de toda a família humana que se estende sobre o nosso planeta, de leste a oeste e de norte a sul.
Os Padres do deserto do século IV diziam: “Julgar os outros é um fardo pesado”. Eu tive alguns momentos na vida em que me senti livre da necessidade de fazer qualquer juízo de valor acerca dos outros. Senti que me tinha sido tirado um peso dos ombros... Mas, só poderemos pôr de lado o fardo pesado de julgar os outros quando estivermos dispostos a substituir o julgamento pela compaixão.

Henri Nouwen

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